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Neuroarquitetura: Como a Neurociência está Redefinindo o Design de Espaços

*Maysa Callegari Torres é arquiteta e urbanista, especialista em Gerenciamento de

Projetos e Neuroarquitetura.

Atua como Coordenadora de Projetos na Noah.

Começo esse artigo te convidando a fazer um rápido experimento. Do lugar em que você está agora. Feche os olhos por 30 segundos e se imagine em um lugar que você se sente muito bem. Agora pense, onde você está? Como é esse lugar? Que sons você ouve? Que cheiro ele tem? Quais são as texturas dos objetos? Que tipo de luz tem nesse lugar? O que ele significa?

É possível que você lembre rapidamente de alguns desses elementos, outros você provavelmente nem tenha reparado enquanto vivenciava a experiência. Outros, através da indução do experimento, você pode ter puxado na memória e reparar ou até mesmo supor através da sensação.

Essa é a dinâmica psicológica do espaço. Em um ambiente, somos capazes de absorver uma série de estímulos inconscientes que se traduzem em sensações e sentimentos, funcionando como códigos pessoais para nosso inconsciente.

Imagine agora se pudéssemos construir ambientes levando em conta não apenas a forma ou a função, mas a produção de sensações e sentimentos específicos nos usuários. Espaços que tenham o poder de transmitir bem-estar alterando a resposta de comportamento humano ao espaço construídos. Podendo promover melhoria no desempenho e diminuição de estresse em espaços comerciais e corporativos, melhoria a resposta de tratamentos medicinais em clínicas e hospitais ou até mesmo espaços que promovam estímulos específicos visando o desenvolvimento de aprendizagem e de habilidades sociais.

A neuroarquitetura surge como um esforço dos profissionais da arquitetura para coletar dados baseados no conhecimento da neurociência. Este campo científico busca compreender as reações no sistema nervoso das pessoas ao interagirem com o meio ambiente, decodificando os estímulos que geram sensações específicas.

Podemos elencar alguns desafios significativos para o estudo deste campo científico voltado para a arquitetura como por exemplo, ao estudar a resposta do comportamento humano a certos estímulos, precisamos considerar a dimensão das vivências e memórias particulares de cada indivíduo. Considerando esta variável para o estudo, fica muito mais difícil determinar padrões de estímulos e afirmar categoricamente uma garantia de assertividade, mas podemos entender tendências por estatística.

Outro desafio é a diferenciação da psicologia ambiental, um campo que analisa o comportamento humano no meio ambiente através de observações e relatos. As duas disciplinas, neuroarquitetura e psicologia ambiental, estudam os estímulos do espaço no ser humano, mas com objetivos distintos: um busca compreender o comportamento, o outro, como o corpo processa esses estímulos externos e suas reações. Ambas as áreas são ferramentas valiosas para a prática da arquitetura, exigindo dos profissionais uma compreensão clara das diferenças, essencial para preservar o rigor científico em ambas.

Alguns elementos específicos da neuroarquitetura, como a neuroiluminação, já dispõem de dados suficientes para embasar projetos. Estudando o ciclo circadiano, podemos determinar estímulos específicos que melhoram a qualidade de vida, ajustando o relógio biológico e induzindo a produção de melatonina ou melhorando o bem-estar através da valorização a iluminação natural.

O ambiente é uma variável de grande influência no comportamento humano. Ao adentrarmos ambientes diversos, modificamos nosso comportamento intuitivamente, buscando adaptação. Ajustamos o tom de voz, a velocidade do passo, a expressividade dos gestos, a seriedade da face. Esse mecanismo de adaptação é um dos funcionamentos fundamentais do sistema nervoso.

O estudo da neuroarquitetura tem o potencial de transformar a abordagem dos arquitetos em pouco tempo, elevando a ambientação de espaços a um novo patamar. O conhecimento das variáveis ambientais que influenciam biologicamente o corpo e, consequentemente, o comportamento, redefine as decisões projetuais, utilizando formas, símbolos, cores, texturas e outros elementos como ferramentas para criar projetos mais humanos, saudáveis, acolhedores e desta forma, contribuindo para uma sociedade melhor.

Fontes:

VILARROUCO, Vilma; FERRER, Nicole; MONIQUE PAIVA, Marie; Neuroarquitetura: a neurociência no ambiente construído; 1ª ed; Rio de janeiro, Rio Books, 2021.

CRIZEL, Lori; Neuroarquitetura: neuroarquitetura, neurodesign e neuroiluminação; 1ª ed; Cascavel, PR, Lori Crizel, 2020.

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